A seca e o olhar sudestino. Veja!
O pior da seca parece estar
terminando, mas não terminou. Ainda haverá sofrimentos em 2013, menos água em
muitos lugares, pastagem mais escassa, safra prejudicada. Mas, a tendência é a
situação melhorar daqui para frente, voltando a longa estiagem lá pelo ano de
2050, daqui a trinta anos.
Não se repetiu a tragédia humana
das grandes migrações e do genocídio humano. A lógica da convivência com o
semiárido provou ser a mais correta e a tragédia só não se repetiu graças a
pouca infra-estrutura já implementada, como cisternas e algumas adutoras.
É duro ver as reportagens feitas
pelos grandes meios de comunicação do sul e sudeste sobre nossa região,
particularmente em tempos de longa estiagem. O imaginário preconcebido sempre
está presente.
Elas têm enfatizado a morte dos
animais. De fato, o gado bovino tem sofrido e morrido em quantidade nessa seca.
Mas, essa é uma questão superada para o movimento social que defende a
convivência com o semiárido, isto é, essa região nunca foi local adequado para
se criar bois e vacas. Há uma comparação feita pelos educadores populares nos
cursos de formação com uma estatística bem simples: um boi come por sete bodes,
bebe por sete bodes, ocupa o espaço de sete bodes. Quando morre um boi, morre o equivalente a sete bodes.
De fato, quando se encontrar um
bode morto de fome ou sede no sertão, é porque ali já não sobrou uma alma viva.
Nessa seca os bois estão morrendo, os bodes estão gordos. O animal é adaptado,
suporta as secas, mesmo que sua criação seja contestada por muitos técnicos
como sendo um animal daninho e ameaçador da biodiversidade. Mas isso – dizem os
técnicos do movimento social – é um problema de manejo, não de adaptação.
Alem do mais, os repórteres tem se
dirigido exclusivamente ao sertão de Pernambuco, particularmente aos eixos da
Transposição. Muitos insinuam: se a obra estivesse concluída, não haveria esse
sofrimento.
Mentira absurda. Os lugares
visitados, como Cabrobó, estão às margens do São Francisco. Água é o que não
falta para abastecer o sertão de Pernambuco. O problema continua sendo sua
distribuição.
Ao seu modo o governo começa fazer
as adutoras, tão reivindicadas por nós. A do Algodão em Guanambi; do Pajeú, em
Pernambuco; do São Francisco para Aracaju; do Forró no sertão de Curaçá; do
Cristal no sertão de Petrolina; as duas de Remanso; etc. Portanto, o governo
sabe o que é correto fazer.
Quanto à Transposição, tudo que
prevíamos acontece: impacto nas comunidades, impacto no meio ambiente, prazos
alongados, preços duplicados. Um fator não previmos: os projetos mal feitos e
agora condenados pelos Tribunal de Contas da União.
Se a obra vai chegar ao fim não
sabemos. Só lá poderemos confirmar nossas outras previsões, as mais cruéis: a
água não é para o povo necessitado; vai impactar o São Francisco - que esse ano
já está apenas com 27% em Sobradinho-; finalmente, não vai resolver o problema
da seca.
Quem viver verá. O tempo é o pai da
verdade.
Por Roberto Malvezzi
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