A esperança nos olhos dos/as sertanejos/as depois da chuvarada. Veja!
Em Simão Dias (SE), semiárido
sergipano, a história não é diferente em relação ao tempo prolongado de
estiagem. São várias dificuldades. Mas vamos iniciar esse texto lembrando um trecho
de uma música que embala a ASA - Articulação Semiárido Brasileiro, “Água de
Chuva”, de Roberto Malvezzi, conhecido como Gogó: “Colher a água, reter a água,
guardar a água quando a chuva cai do céu, guardar em casa também no chão e ter
a água se vier a precisão”.
Com as palavras do nosso querido
poeta Gogó e os depoimentos do povo do Semiárido, damos conta da importância
daquela “cisterninha de placa” no pé da casa com água limpa e fresquinha para
beber e daquela outra que comporta 52 mil litros para poder aguar a horta e
criar os bichos.
Seu Valmir e Dona Nalvinha são
agricultores e moram na comunidade Jacaré, no município de Simão Dias, do qual
falei no início da prosa. ”Já fazia dois anos que [não] chovia por aqui, quinta
feira (22) eu disse ‘vai chover’, a gente sente, então foi dito e certo, caiu
uma chuva de dar prazer, eu não tenho nem palavras para falar da minha
alegria”, foi assim que Seu Valmir foi recebendo a equipe do CDJBC na sua casa,
na ultima quarta feira, dia 23 de janeiro, radiante com a trovoada que havia
caído no domingo (20).
A satisfação pela chegada da chuva
não estava presente somente nas palavras e no olhar daquela família, estava
presente também no pedaço de terra já arado para plantação das hortaliças, bem
próxima a cisterna-calçadão, ela estava presente também no comportamento das
cabras que Seu Valmir cria com tanto zelo mesmo no período de estiagem.
“Não comprei água em momento
nenhum, só tive que optar ou a horta ou as cabras, então fiquei cuidando das
cabras esse tempo todo de estiagem com a água da cisterna grande. O negócio é
economizar. Deus me livre de eu usar a água da cisterna para jogar no banheiro,
a gente precisa reutilizar a água".
Das cabras que Seu Valmir nos fala
com tanto orgulho vêm o leite e o queijo que contribui bastante com a
alimentação da sua família. A horta não foi possível permanecer, mas os animais
de pequeno porte deram sustentabilidade, pois algumas galinhas caipiras também
ciscavam no terreiro comemorando a chuvarada.
“A gente pode não ter muita coisa
agora para mostrar, mas pode ter certeza, para nós não houve sofrimento, houve
cautela, pois quem tem essas bênçãos que são essas cisternas, para nós
agricultores, é ter quase tudo”.
Que alegria é ver em meio ao
“tapete marrom”, como ele mesmo nos disse quando se referiu à seca, uma família
com tranquilidade podendo, depois de uma chuva forte, fazer planos para o
futuro.
“Já arei esse pedacinho aqui, agora
vou plantar minhas hortaliças, pois minha cisterna está para mais do meio, já
estava com saudade de comer meus alimentos sem veneno. E tem uma coisa que não
posso esquecer, aprendi muita coisa nos intercâmbios que fui, pois se vocês têm
grau acadêmico, a gente tem faculdade da vida”.
E é com esse sentimento de que as
possibilidades existem para uma boa convivência com o Semiárido e elas são
comprovadas por vários/as agricultores/as, que a gente termina com mais um
trecho da linda musica que nos trás uma reflexão sobre a fundamental importância
da cisterna de placa de 16 mil litros para o povo do sertão:
“No pé da casa você faz sua
cisterna
E guarda a água que o céu lhe
enviou
É dom de Deus, é água limpa, é
coisa linda
Todo idoso, o menino e a menina
Podem beber que é água pura e cristalina.”
ASA Brasil
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