Morre Hugo Chávez, presidente da Venezuela, aos 58 anos. Veja!
Ferrenho crítico
do neoliberalismo e do governo dos Estados Unidos, o presidente venezuelano,
Hugo Chávez, morreu aos 58 anos nesta terça-feira (5), vítima de um câncer na
região pélvica, com o qual convivia há um ano e meio.
Desde que sua
enfermidade foi diagnosticada, em junho de 2011, Chávez passava longos períodos
em Cuba, onde tratava a doença.
O anúncio
oficial da morte de Chávez foi feito por volta das 17h25 no horário local
(18h55 no horário de Brasília) desta terça-feira (5) pelo vice-presidente
venezuelano Nicolás Maduro. No mesmo pronunciamento, Maduro confirmou que
Chávez morreu às 16h25 (17h55h no horário de Brasília).
Maduro afirmou
que utilizará a prerrogativa de um dispositivo militar e policial especial para
garantir a paz do país após a morte de Chávez.
"Será
desencadeada uma união especial de toda a Força Armada Nacional Bolivariana, da
Polícia Nacional Bolivariana, que neste exato momento está em execução para
acompanhar e proteger nosso povo", disse Maduro durante um pronunciamento
em rede nacional para rádio e televisão.
Por volta das
19h20 (horário de Brasília), os chefes das Forças Armadas da Venezuela
declararam sua lealdade ao vice-presidente e convocaram todas as forças
disponíveis no país para garantir a segurança de todos os cidadãos venezuelanos
e o cumprimento da Constituição do país.
Vice havia dito
na tarde da terça que Chávez tinha "plena consciência e vontade de vida"
Maduro já havia
feito um pronunciamento sobre o estado de saúde de Chávez nesta terça-feira. O
vice-presidente chegou a dizer que Chávez tinha "plena consciência e
vontade de vida" e clamou pelo retorno do presidente venezuelano:
"Que volte Chávez, que assuma Chávez".
No mesmo
pronunciamento, Maduro acusou os "inimigos do país" de estarem por
trás da doença de Chávez. Antes mesmo do anúncio oficial da morte do presidente
venezuelano, o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA Patrick Ventrell
negou a acusação feita por Maduro: "A afirmação de que os Estados Unidos
estavam envolvidos de alguma maneira na causa da enfermidade do presidente
Chávez é absurda, e a rechaçamos completamente",
Retorno de Cuba
em meados de fevereiro causou surpresa no país
Antes de viajar
à ilha pela última vez, em dezembro de 2012, Chávez fez um pronunciamento na
televisão venezuelana, no qual aludiu ao risco de morte ou de complicações
maiores. Na ocasião, ele também indicou o seu sucessor, o vice-presidente e
chanceler Nicolás Maduro.
No dia 18 de
fevereiro, Chávez voltou à Venezuela de forma surpreendente após dois meses em
Cuba. "Chegamos de novo à Pátria venezuelana. Obrigado Deus meu!! Obrigado
povo amado!! Aqui continuaremos o tratamento", escreveu na ocasião em seu
perfil no Twitter.
Desde então, a
oposição vinha cobrando mais clareza por parte do governo sobre o estado de
saúde do mandatário.
Em outubro de
2012, Chávez havia sido reeleito presidente da Venezuela, com 54% dos votos.
Como faleceu antes de assumir o governo, o país deverá passar por novas
eleições. O ex-governante já deixou o seu recado sobre o futuro do país.
"Vocês todos têm de eleger Nicolás Maduro como presidente. Peço isso de
coração", afirmou, durante seu pronunciamento na TV.
Quem foi Hugo
Chávez, presidente da Venezuela
Foram mais de
três décadas de vida política na Venezuela, que começou quando ele se formou em
ciências e artes militares na Academia Militar da Venezuela, aos 21 anos.
Natural de
Sabaneta, oeste da Venezuela, Chávez nasceu a 28 de julho de 1954. Ele era o
segundo de seis filhos dos professores Hugo de los Reyes Chávez e Elena Frías
de Chávez.
Sua infância e
adolescência, vividas em Sabaneta e Barinas, também no oeste do país, foram
marcadas pelo gosto por esportes e artes – o presidente chegou a escrever
alguns contos e obras de teatro.
Em 1975,
ingressou na Academia Militar da Venezuela, e não demorou muito para que se
tornasse tenente-coronel, em 1990.
Sua ideologia
esquerdista e a identificação com Simón Bolívar, um dos heróis da independência
da Venezuela, o levaram a fundar o Movimento Bolivariano Revolucionário 200
(MBR200), que pregava a reforma do Exército e a mudança da ordem constitucional
vigente.
Em fevereiro de
1992, orquestrou um golpe de Estado contra o então presidente Carlos Andrés
Pérez, que estava envolvido em denúncias de corrupção. A tentativa fracassou e
Chávez foi levado à prisão, onde permaneceu por dois anos.
Já em 1997, ele
fundou o Movimento Quinta República (MVR), agremiação pela qual venceu as
eleições presidenciais do ano seguinte, com 56,5% dos votos.
Assim que tomou
posse, em 1999, Chávez dissolveu o Congresso e convocou um referendo para a
instauração de uma Assembleia Nacional Constituinte. Das 131 cadeiras, 120
pertenciam a aliados do então presidente.
A nova Carta,
aprovada por 71,21% dos eleitores, mudou o nome do país para República
Bolivariana da Venezuela, outorgou maiores poderes ao Executivo, extinguiu o
Senado – o Parlamento virou unicameral – e aumentou os direitos culturais e
linguísticos dos povos indígenas. Novas eleições presidenciais foram realizadas
em 2000, e Chávez foi reeleito com 59,7% dos votos.
Em 2002, o país
passou por uma grave crise política depois que Chávez demitiu gestores da PDVSA
– a petrolífera estatal venezuelana, que controla 95% da produção nacional – e
os substituiu por gente de sua confiança.
Opositores
organizaram um golpe de Estado em abril do mesmo ano, que foi seguido de um
contragolpe dois dias depois, já que forças leais a Chávez perceberam o clamor
popular do líder. Com duração de 47 horas, este foi o golpe de Estado mais
rápido da história.
Um referendo
sobre a permanência de Chávez no poder foi realizado em agosto de 2004, e
58,25% dos votantes se mostraram favoráveis ao presidente. Em 2006, ele foi
reeleito para um segundo mandato de seis anos. Mais uma vez, ele governou com
grande apoio no Congresso, já que a oposição havia boicotado as eleições
legislativas de 2005.
COMO FICA A
SUCESSÃO DE CHÁVEZ
Conforme o
Artigo 233 da Constituição venezuelana, a falta absoluta causada pela morte do
presidente eleito provoca uma nova eleição "universal, direta e
secreta" após 30 dias consecutivos.
Durante esses 30
dias, o presidente da Assembleia Nacional --atualmente, o chavista Diosdado
Cabello--, assume a presidência da Venezuela.
Em diversas
ocasiões, Chávez manifestou o desejo de que Nicolás Maduro, seu
vice-presidente, fosse o candidato do PSUV (Partido Socialista Unido da
Venezuela), caso fosse necessária a realização de uma nova eleição no país.
Na eleição de
outubro de 2012, vencida por Chávez, o candidato da coligação de oposição ao
PSUV foi Henrique Capriles.
O primeiro revés
veio no final de 2007, quando a população, após um plebiscito, negou uma
reforma à Constituição. Em 2008, a oposição ganhou a prefeitura das duas
maiores cidades do país, Caracas e Maracaibo, além de cinco Estados
economicamente importantes (Zulia, Carabobo, Miranda, Táchira e Nueva Esparta).
Os revezes
seriam em parte compensados em 2009, quando Chávez conseguiu a aprovação da
reeleição ilimitada em um referendo no qual 54% dos votos foram favoráveis à
proposta. Em 2012, ele disputou o pleito presidencial pela quarta vez e foi reeleito,
mas não chegou a assumir o governo.
Aliados e
inimigos
No campo da
política externa, Chávez não escondia seu apreço por governantes como o
boliviano Evo Morales, o equatoriano Rafael Correa e os cubanos Raúl e Fidel
Castro, todos combatentes da diplomacia dos EUA. Por outro lado, era feroz
crítico do governo da vizinha Colômbia, aliada dos EUA na América do Sul, e se
desentendeu várias vezes com o ex-presidente colombiano Álvaro Uribe
(2002-2010).
Ainda no âmbito
regional, Chávez era o principal defensor da Alba (Aliança Bolivariana para as
Américas), bloco de cooperação regional fundado em 2004 em oposição à Alca
(Área de Livre Comércio das Américas), proposta impulsionada pelos EUA desde a
década de 90, mas que nunca foi criada.
Em 2009, o
presidente expulsou do país o embaixador de Israel, em represália à intervenção
militar israelense na faixa de Gaza, em janeiro do mesmo ano. Por outro lado,
era próximo do iraniano Mahmoud Ahmadinejad e dos ex-ditadores iraquiano Saddam
Hussein (1937-2006) e Muammar Gaddafi (1942-2011).
Também defendia
o ditador sírio, Bashar al Assad, o que causava controvérsias, já que o regime
árabe é acusado de promover uma violenta repressão à revolta popular que atinge
o país.
Política interna
Enquanto
presidente, Chávez trabalhou para diminuição da pobreza em seu país. Em 2003,
ele implementou as "Misiones Bolivarianas", programas sociais
voltados à população carente. Existem 26 missões – as mais conhecidas são a
"Misión Robinson", que promove a alfabetização em regiões pobres, e a
"Misión Barrio Adentro", que leva assistência médica a estas zonas.
Tais políticas
contribuíram para a melhora na condição de vida dos venezuelanos. Segundo
pesquisa do Instituto Datos, a renda da classe "E", a mais pobre do
país e que concentra 15,1 milhões de pessoas (58% da população), aumentou 53%
entre 2003 e 2004.
Antes, em 2001,
ele havia baixado um decreto-lei conhecido como Lei dos Hidrocarbonetos, que
fixou em 51% a participação do Estado no setor petrolífero – a Venezuela é o
oitavo maior exportador mundial de petróleo, que representa 80% das exportações
do país -- aumentou o preço dos royalties pagos por empresas estrangeiras pela
exploração do líquido.
A Lei de Terras
e Desenvolvimento Agrário, do mesmo ano, estabeleceu a expropriação de terras
improdutivas acima de 5.000 hectares.
Em 2007, em mais
um gesto contra os opositores ao seu governo, o presidente decidiu não renovar
a licença do canal de televisão aberta Radio Caracas Televisión (RCTV), que
desde então é obrigada a transmitir via cabo.
Entre 2009 e
2010, o país sofreu uma grave crise energética após uma seca provocada pelo
fenômeno climático El Niño. A oposição culpou o governo por não investir na
área, e a população foi obrigada a fazer racionamento.
O dilema
energético venezuelano persiste, e se juntou ao problema no sistema carcerário,
explicitado após uma rebelião de mais de mil presos na cadeia de El Rodeo, a 40
km de Caracas, em junho de 2011, que deixou dezenas de mortos.
Herança familiar
Chávez deixa
três filhas e um filho – três são fruto do casamento com Nancy Colmenares e uma
nasceu da união com a jornalista Marisabel Rodríguez, de quem havia se separado
em 2003. O ex-presidente ainda manteve um caso amoroso de dez anos com a
historiadora Herma Marksman, enquanto estava com sua primeira mulher.
Fonte: Uol
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