Nigéria passeia, mas Taiti faz gol histórico e empolga torcida. Veja!

O volante
Jonathan Tehau, que, assim como 22 de seus 23 companheiros, nunca havia jogado
fora da Oceania, foi o responsável por unir torcedores rivais num grito de gol
no Mineirão. Foi a primeira partida oficial da amadora equipe do Taiti numa
competição oficial, a Copa das Confederações.
A diferença
técnica entre os campeões da Oceania e da África era gigantesca. Mas o incrível
desleixo dos nigerianos e o ímpeto dos taitianos fizeram com que o jogo não
terminasse numa goleada muito maior. Era exatamente isso o que o Taiti queria –
sair do Mineirão de cabeça erguida, com honra, sob aplausos de torcedores que
souberam reconhecer seu esforço e dedicação. Para a Nigéria, o 6 a 1 acabou
sendo pouco. Uruguai e Espanha, as outras equipes do Grupo B, devem fazer muito
mais gols no Taiti. E o saldo é o primeiro critério de desempate para a
classificação.
Vaias, aplausos
e muitos gols
Vaiando até o
Hino da Nigéria, numa atitude pouco vista até em casos de países em guerra, a
torcida mineira tentou mostrar que estaria com os taitianos do começo ao fim.
Qualquer troca de passes rendia aplausos. Esse calor da arquibancada – que
esteve longe de ficar lotada – fez com que os taitianos se enchessem de
confiança. O grito de “Ih, ih, ih, seleção do Taiti” era o equivalente ao “si
se puede” dos campos da América do Sul para a pequena nação da Polinésia
Francesa.
Pena que a
empolgação taitiana foi abalada por um incrível lance de azar logo aos 5
minutos de jogo. Num cruzamento despretensioso, o capitão Nicolar Vallar
afastou de cabeça, mas viu a bola bater no árbitro salvadorenho Joel Aguilar e
cair limpa para o lateral Uwa Echiejile, que resolveu arriscar de longe. O
chute desviou no próprio Vallar e morreu dentro da rede do Taiti. Um duro golpe
para o zagueiro taitiano, cujos pais, Claude e Mirella, estavam no Mineirão.
O gol tratou de
reestabelecer a ordem futebolística em campo. A Nigéria passou a mandar no
jogo, deixando claro ali quem era adulto e quem era moleque. O Taiti se abalou.
Cada passe errado era lamentado como pênalti perdido em final de Copa. Os
nigerianos pareciam até assustados diante de tamanha inocência. Profissionais
que são, faziam seu dever. Tocavam a bola em ritmo de treino, esperando a hora
certa de entrar na fraquíssima defesa adversária. O segundo gol saiu aos 10
minutos, com Oduamadi passando pelos zagueiros como se fossem cones. Aos 16,
Musa passou por três, pelo goleiro e, na hora da finalização, enrolou-se com a
bola e entrou para o Inacreditável Futebol Clube.
Mas o abismo na
qualidade dos dois times não fez o torcedor mineiro desistir de apoiar o Taiti.
Pelo contrário. Um desarme sobre a estrela Obi Mikel, do Chelsea, foi apreciado
como uma aparição do cometa Halley. Pais-corujas não seriam mais carinhosos com
seus filhos num jogo de campeonato escolar. Até quando erravam de forma
grotesca, os taitianos recebiam gracejos. No terceiro gol nigeriano, o goleiro
Samin soltou a bola no pé de Oduamadi. O replay do lance no telão arrancou
gargalhadas, algo que se vê num torneio escolar, não numa competição da Fifa.
O Taiti chegou
duas vezes à área nigeriana nos primeiros 45 minutos, ambas com Chong-Hue.
Ficou no quase. Na segunda, caído, ele dava tapas no gramado, desesperado. Deu
dó.
As estatísticas
do primeiro tempo mostraram uma Nigéria com 69% da posse de bola, mas o número
de finalizações não foi tão maior que o do Taiti: nove contra seis. Prova de
que os taitianos não tinham medo algum de arriscar. E de que os nigerianos
tentavam ir tocando até a linha do gol, como se tivessem estabelecido para si
mesmos a regra de que “gol fora da pequena área não vale”. Puro preciosismo,
que, claro, rendeu vaias da torcida mineira.
Milagres
acontecem

A alegria maior,
porém, ainda estava por vir. Aos 9, Vahirua cobrou escanteio, e Jonathan Tehau
subiu com estilo para fazer o primeiro gol da história do Taiti numa competição
oficial fora da Oceania. Os mineiros foram ao delírio. Gol de Cruzeiro ou
Atlético não renderiam comemoração maior – até porque o Taiti conseguira juntar
as duas torcidas rivais numa só força. No campo, os taitianos vibraram
simulando o movimento de uma canoa. No banco, membros da comissão técnica
pareciam só faltar chorar. Linda festa taitiana.
Quinze minutos
depois, naquelas grandes ironias que só o futebol é capaz de fazer, a Nigéria
chegou ao quarto gol num lance em que a bola bateu em Vahirua e Jonathan Tehau,
justamente os responsáveis pelo gol taitiano, antes de entrar.
Cabia mais.
Oduamadi fez seu terceiro gol, quinto da Nigéria, despontando na artilharia da
competição, ao completar cruzamento de Ideye. O lateral Uwa Echiejile fez o
sexto aos 35.
Com 6 a 1 no
placar, os cruzeirenses começaram a tirar sarro dos atleticanos, lembrando da
goleada registrada na última rodada do Campeonato Brasileiro de 2011, que
livrou a Raposa do rebaixamento. “A – E – I – o Galo é Taiti”, gritava a metade
azul do Mineirão. Tudo era motivo para festa.
Fonte: Juliano Costa
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