Fantástico: Justiça vê indícios de pirâmide na TelexFree e determina investigação. Veja!
Nesta semana, o
Ministério da Justiça determinou uma investigação sobre a empresa TelexFree.
Motivo: ter encontrado indícios de que ela promove uma pirâmide financeira, o
que é proibido no Brasil.
A TelexFree já
estava com suas atividades suspensas por determinação da Justiça do Acre. Mas
os diretores da companhia dizem que vão provar que trabalham dentro da lei.
Estima-se que quase um milhão de pessoas em todo o Brasil se associaram à TelexFree. Tinha gente ganhando muito dinheiro. Mas desde o último dia 13, a empresa está impedida de operar pela Justiça do Acre.
“Eu decidi que seria absolutamente necessário e urgente paralisar o crescimento dessa rede, porque ela tem aparência de ilicitude. Ao final da ação e realmente ficando caracterizada a existência da pirâmide, utilizar esses recursos para repor eventuais prejuízos”, explica Thaís Khalil, juíza da 2ª Vara Cível - AC.
A Justiça do Acre investiga se a TelexFree cometeu crime contra a economia popular, estelionato, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. E mais: na sexta-feira (28), o Ministério da Justiça anunciou a abertura de procedimento administrativo contra a TelexFree.
“Nós recebemos, no começo do ano, denúncia de diversos órgãos do sistema de defesa do consumidor, entre eles do Ministério Público e do Procon do Acre”, afirma Amaury Oliva, do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor do Ministério da Justiça.
Além do Acre, as atividades da TelexFree estão sendo investigadas em mais seis estados.
“Diversos Procons, desde o começo do ano, vêm questionando o Ministério Público, vêm questionando o Ministério da Justiça para verificar a legalidade”, diz Ivo Vinícius Firmo, gerente de fiscalização do Procon-MT.
“Há sérios indícios de violação das normas de defesa do Código de Defesa do Consumidor”, avalia Amaury Oliva.
A TelexFree vende um programa de computador que permite ligações nacionais e internacionais para mais de 40 países. O valor do plano é tabelado em dólar: US$ 49,90, pouco mais de R$ 111 por mês, para três mil minutos de ligação.
Esse programa é semelhante a muitos outros que permitem fazer ligações telefônicas pela internet. Alguns desses programas podem ser baixados de graça e o usuário paga as ligações em um sistema pré-pago.
Além disso, a empresa oferece dinheiro para quem quiser anunciar ou revender o programa na internet. Nesse caso, é preciso pagar taxas de adesão, a mais barata custa o equivalente a quase R$ 600.
O interessado tem duas opções: ele pode apenas publicar anúncios da TelexFree na internet e ganhar uma comissão por isso, ou pode ganhar mais, recrutando outras pessoas também dispostas a divulgar e revender o produto.
Dessa forma, ele está criando o que se chama de rede. O Ministério da Justiça investiga se esse mecanismo é o esquema conhecido como pirâmide financeira, que é contra a lei.
“Uma pirâmide ocorre quando a remuneração das pessoas que estão no topo depende da entrada de novos investidores, novos consumidores. Chega um momento em que a pirâmide não é mais sustentável. Há indícios de que a promessa de ganhos, lucros, depende da entrada de novos consumidores”, explica Amaury Oliva.
“É a estrutura do negócio. Ela está montada como uma pirâmide financeira”, afirma Nicole Gonzales Arnoldi, promotora de Justiça - AC.
“Dá para dizer que o esquema de incentivos existentes na TelexFree é um esquema de pirâmide. Eles vendem produtos para participantes dentro do próprio esquema, então, isso faz com que quanto mais pessoas participem, maior seja a remuneração dos envolvidos”, avalia Fernando Gauldi, professora da Fucape Business School.
“A maior
rentabilidade está em exatamente fazer com que outras pessoas ingressem nessa
empresa, nessa pirâmide, injetando dinheiro e cada vez que uma pessoa entra e
injeta dinheiro, vai gerando lucro para os que já estão. Por isso é uma pirâmide
financeira”, afirma Fernanda Pawelec, promotora de Justiça - MT.
“Vai chegar um
momento em que todos esses participantes vão precisar de novos entrantes pra
serem remunerados e aí não vão encontrar pessoas suficientes dispostas a fazer
esses investimentos”, diz Gauldi.
Segundo o
professor, é nesse momento que a pirâmide quebra: “Não há como manter a
remuneração de todos os participantes da pirâmide porque, em um determinado
momento, vai precisar de mais pessoas do que existe no país, em uma cidade ou até
mesmo no mundo”, afirma.
O diretor da
empresa nega que a TelexFree seja uma pirâmide. “Uma pirâmide financeira é só
dinheiro por dinheiro. É só adesão, não tem produto, não envolve serviço, não
envolve nada. Só ganha dinheiro na nossa companhia aquela pessoa que
comercializa os nossos produtos”, garante Carlos Costa.
O baiano Joab
Santos vem formando redes e ganhando muito bem para isso: “A cada nova pessoa
que agrega à sua rede, você vai ganhar uma comissão, sendo que você a convidou
diretamente. Eu hoje estou com um resultado de R$ 2,2 milhões dentro desse
projeto, em oito meses de trabalho, na verdade. Na minha conta bancária, até
ontem eu tinha R$ 850 mil. Aí comprei esse carro de R$ 200 mil à vista. Aí
ficou lá com R$ 600 e tantos mil”, diz ele.
Mas outro
divulgador, que não sabia que estava sendo filmado, admitiu que o negócio é uma
pirâmide.
Fantástico: Hoje
você ganha a partir da formação da pirâmide?
Divulgador:
Isso.
Fantástico:
Quanto maior a pirâmide...
Divulgador:
Maior seu lucro.
Um homem que não
quer se identificar disse que teve prejuízo porque pagou o pacote que permite
revender o produto, mas não conseguiu formar uma rede: “Você não recebe nenhum
apoio, até mesmo um treinamento para cadastrar a pessoa. Você, depois, nem
consegue, às vezes, cadastrar a pessoa”, ele diz.
Diego Campos,
diretor de um site que divulga queixas de consumidores contra empresas, o
Reclame Aqui, afirma: “A TelexFree bateu recorde de reclamações em um único
mês, atingindo mais de 7,3 mil reclamações em 30 dias. Se você considerar que,
até então, o recorde era de companhias do setor de telefonia celular, esse
número chama muito a atenção”.
As principais
queixas contra a TelexFree no Reclame Aqui se referem a atraso nos pagamentos
acertados e dificuldade de comunicação com a empresa.
No Acre, a
professora Railda Mariano fez um empréstimo de R$ 10 mil para entrar no
negócio. Com a decisão da Justiça, que bloqueou os pagamentos da TelexFree, a
situação dela ficou difícil.
“Me encontro
extremamente aborrecida, porque, assim, proibirem as pessoas de entrarem, tudo
bem. Mas aí proibir as pessoas que já investiram de receber o seu retorno, eu
já acho assim um pouco demais”, reclama a professora.
Neste fim de
semana, divulgadores da TelexFree estiveram na frente de emissoras da Rede
Globo pelo país e protestaram contra esta reportagem do Fantástico e contra a
decisão da Justiça.
“Nós viemos aqui
devido a uma arbitrariedade da Justiça que bloqueou os pagamentos de todo mundo
da TelexFree no Brasil inteiro, nós estamos impedidos de trabalhar e eu estou
impedido de receber. Nossa empresa vem pagando todos os divulgadores, pagando
seus impostos em dia e ela interditou isso. Nós acreditamos na empresa, a
empresa é legal, pirâmide financeira são outras coisas ilegais. Se fosse uma
pirâmide financeira, certamente teríamos aqui um milhão e meio de pessoas
reclamando”, declarou Rodrigo Teixeira, divulgador da TelexFree.
“Nós queremos
mostrar que essas pessoas estão todas satisfeitas com nosso negócio, que todos
estão recebendo, a empresa não deixou de pagar ninguém”, avisou Leo Cardoso,
divulgador da TelexFree.
“O que eu tenho
para dizer a essas pessoas que compraram, que hoje são nossos divulgadores, que
elas fiquem tranquilas, que a empresa está trabalhando e ela vai provar tudo
que precisa ser provado”, declarou o diretor da empresa, Carlos Costa.
Agora, a
TelexFree tem que apresentar esclarecimentos ao Ministério da Justiça. Se
comprovado o esquema de pirâmide, a empresa pode ter que pagar uma multa de
mais R$ 6 milhões.
“O consumidor
deve estar atento a ganhos fáceis, ganhos altos, ganhos que dependam da entrada
de novas pessoas, e também ficar sempre atento a riscos. Quando uma empresa não
fala sobre os riscos, não deixa isso claro, é importante o consumidor ficar
atento, procurar os contratos, saber do modelo de negócios e da sua
sustentabilidade”, alerta Amaury Oliva.
Foto: Reprodução
Fonte: G1/Fantástico
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